30 Amor militar, minha guerra Particular

30/03/2007
Nem no melhor plano de paz o atrito deixa de ser inevitável. A guerra de gênios é bem típica de uma relação que, por mais romântica que seja, não impede que um queira seguir o norte e o outro o sul. No caso de um “amor militar” ele geralmente opta pelo norte e você não tem muita opção de ir pelo lado oposto. E se não quiser? Aí, o atrito é certo! Quem começa a namorar um militar vê o futuro como um plano que será sempre pensado à dois, seguindo o interesse mútuo. Só que na prática um lado tem que ceder, toda escolha não deixa de ser uma perda. Se ele precisa ir para longe da sua família, dos seus estudos, dos seus amigos, você terá que decidir se quer ficar longe dele. Mas como decidir algo que já parece óbvio: você não consegue ficar longe dele.
É bem neste instante que começa sua guerra. Batalhas interiores que ninguém poderá dimensionar, suas noites em lágrimas serão apenas suas. Esse mundo é um microcosmos que os outros ao seu redor não entenderão nunca. Primeiramente, vem a angústia de não ter um relacionamento normal, igual a daqueles casais que andam na rua abraçados, saindo do trabalho ou da escola juntos. Se conseguir atravessar esse ponto, entrará na fase da aceitação. E até verá muito romantismo e vantagens em ter um amor que vive de explosões. Não sofre daquelas infindáveis rotinas, sustenta-se sobre o cume dos êxtases de cada retorno, dos fins de semana e feriados tão aguardados. Nestes dias não há tempo, nem vontade, para brigas.
Uma hora, por mais forte que você, guerreira, seja, cansa, desanima. Aí, você senta e sente que algo está se rompendo dentro de você, seguindo um curso diferente do que havia planejado como modelo de felicidade. É isso ser feliz? Ficar longe, esperando um carinho de hora marcada? Sempre sozinha entre casaizinhos de amigos a sua volta? É esse seu projeto de amor? Se contentar com telefonemas e cartinhas, quando seu coração precisa de contato profundo? E claro que diante do “não” para todas estas perguntas você é interrompida por um telefonema:
_Amor? Oi, estou morrendo de saudade. Vou passar o feriadão aí…
_É? Nossa, que bom…
_Vou para aí, porque é com você que eu sou feliz.
_Que lindo…
_Reza por mim, essa semana tem o campo Mega…
_Claro.
E ao desligar um desses telefonemas rotineiros, você ainda fica sobre o efeito do que ele provoca em você. Como pode apenas uma voz no seu ouvido te fazer se sentir tão extraordinária? Te dá força para, diante da difícil realidade, não desistir? Quem é esse, Meu Deus, que consegue te fazer colocar o coração sobre a razão? O que unicamente sabe, e essa é a única certeza que poderá carregar diante de todas as transferências e missões que lhes aguardam, é que sem essa sensação você não pode viver. Chamem de amor, paixão, aventura, tesão, experiência, como preferirem, mas é isso que nos move. Aliás, vivemos nos movendo ao saber desse norte deles.
Eles vivem muitos infernos, mas nós escondemos todos os nossos por amor.
E quando a guerra de gênios provoca brigas e discussões chega a hora de pesar se tudo valeu a pena, se é chegada a hora do fim. Neste momento crucial sabemos que é inviável ficar longe daquilo que nos completa. Mas como ficar longe, se já não os temos? Digo, ficar longe para sempre, ouvir falar dele amando outra, destinando seus beijos e carinhos para outra… Só esse pensamento é suficiente para chegarmos à conclusão se vale a pena esperar. Afinal, eles estão longe do corpo, mas sempre perto do coração. Numa incompreensível presença, apesar de tantos quilômetros. Não me peçam os outros para entenderem o que eu também não entendo.
Já te perguntaram como suporta, por que não levanta da calçada da vida e deixa de esperar, já que é forte e capaz de superar isso muito bem? Mas você sabe o quanto ele lá sozinho espera seu telefonema, como ele precisa das suas cartas. Você sabe que ele não vive sem seus beijos, seu cheiro, seu corpo, seu sopro de vida. Porque você sabe que, na verdade, quem precisa disso tudo, entre tantas perdas e danos, é você mesma.