Eu e minhas escolhas

1/07/2007
_“Essa foi a escolha que você fez, não entendo porque está sofrendo. Se você escolheu um militar, deveria acompanhá-lo e abdicar de tudo por ele”.
Diante de palavras assim que eu disse a frase do começo do texto: “Eu tenho que fazer escolhas e só eu serei responsável pelas conseqüências delas”. Ninguém irá ver o meu lado, porque não tem como ver a casa pelo lado de fora, senão estando dentro dela. Aqui, na minha pele, eu sei o peso do futuro que me espera e da minha hora que vai chegar de ter que largar tudo.
Ele terá sua brilhante carreira e eu temo ser sua sombra como quem teme a morte. Uma morte a cada transferências de anos que não vão voltar para a minha carreira. Dá até vontade de rir, que carreira? Como se consolidar profissionalmente tendo que explicar ao meu empregador que não ficarei muito tempo ao seu dispor? Não diz, ora, simples? Nem sempre. Viver de disfarces, então?
E só respondendo às palavras acima, não fiz uma escolha. Escolha é passear pelas gôndolas de um supermercado, pegar um produto, gostar e colocar na cesta. Porque se o coração da mulher que ama um militar fosse apenas racional, os militares em peso seriam sozinhos ou só viveriam curtos e breves casos. Quem em sã consciência optaria por abdicar de tudo? Abdicar é uma palavra muito diferente de desistir. A gente desiste do que não consegue e abdica para (por opção) fazer outra escolha. Mas por amor tomamos força para optar por aquilo que nunca tínhamos planejado para nós.
Foi com o rosto molhado de lágrimas e a voz entalada na garganta que lhe disse exatamente isso: _”O amor é a única esperança do mundo. Porque por amor a gente faz até o que não gosta e consegue descobrir felicidade naquilo que nunca quis. O amor atenua tudo e reconforta as frustrações”.
Sabendo onde eu queria chegar, me disse o que eu já sabia e não queria ver confirmado de sua própria boca: “Eu conheço de perto e já vi muitos casais se separarem porque a mulher descobriu que se anulou”. Uma discussão inteira pode não significar nada, se ela não for terminada com uma frase como essa, com poder de acabar com seu dia.
Neste momento, como quem tomba do cavalo de nariz no chão, vi pelo seu ponto de vista que também não era fácil ser o dono da culpa. Afinal, culpa é algo que se sente independente de ser verdadeiramente responsável e digno de algum remorso. Simplesmente se tem a culpa e ela mora dentro da gente, nos condenando. Se condenar pelo o que nos fizemos é mais viável do que se punir pelo que fizemos ao outro, uma vez que é o outro que vai carregar as conseqüências.
Tive pena, porque sei que não há felicidade completa, quando se sabe que o que somos dependeu da diminuição de outra pessoa. Pior ainda, da pessoa a quem mais amamos. “Você vai me abandonar?”, me perguntou com voz de afirmação. Não, evidente que não, porque amo, lembra do amor, aquele amor que agora pouco falei que reconforta tudo? Como tendo amor no peito posso conseguir me escolher em primeiro plano, se para me escolher eu tenha que te deixar ir sem mim?
Vá dormir com esse tormento na cabeça? Até durmo, dando um delete de tudo isso e passando borracha com liquid paper no futuro que ainda existe só em hipóteses na minha cabeça. Viver só o hoje, porque quem sabe a minha missão dure só até semana que vem, um mês e nem dê tempo de tudo isso vir a chegar? Na vida nunca se sabe quando ela acaba.
Madrugar para poder escrever e chorar em paz, estranho isso, disputar no meio da noite um espacinho de tempo para estar sozinha. O rosto fica mais leve sem a máscara de segurança e total felicidade que vestimos para ninguém perceber o que carregamos nas costas.
_”Você não sabe de nada”. Já ouvi isso de alguém. Mas para quem nunca teve que fazer as escolhas que eu terei que tomar, para quem não precisará abdicar de tudo, é fácil dizer que eu não sei de nada da vida por causa da minha pouca idade. Eu sei, sei muito bem que lá na frente me espera muita luta. Uma luta que ninguém travará no meu lugar.
Quem vê pelo lado de fora da casa pode considerar um ângulo um tanto pessimista, mas eu chamaria de realismo, pois tenho essa capacidade fria de não ver a realidade sem os dois pés fincados no chão. Mas também tenho no peito amor e com ele ainda alguma esperança de que ele me reconforte de tudo. Por que se assim não o for, eu realmente já nada sei.
(Esta página do diário foi escrita por uma namorada de militar)
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