Blog da Li

As pessoas não olham mais nos olhos, mas, não largam o celular

Blog da Autora Li Mendi de Livros de Romance na Amazon

— Olha pra mim! Eu estou falando com você, olha aqui para mim! Você não tem coragem de olhar nos meus olhos? Já ouviu alguém subir o tom numa briga pedindo atenção da alma do outro? Porque hoje em dia estamos por aí enxergando o que queremos, mas, acariciando, suportando e maternando tão pouco com o olhar. Nunca nossas pálpebras tiveram tão abaixadas como agora para os seres que mais merecem nossa atenção diária: o celular e seu primo computador.

Sabe quanto tempo de qualidade um pai passa em média dedica ao filho por dia? 6 minutos. Isso quer dizer olhar rosto no rosto e se derramar para aquele ser humaninho, aponta Laura Gutman. Então, se pergunte o que o pobre infeliz do seu marido recebe? Menos ainda. Seus olhos estão na roupa da máquina, na sopa, nos brinquedos espalhados, nas contas, no carrinho do mercado, naquela correria insana. Ele é grande, vai entender. Quantos minutos durante a noite quando você chega se dedica a olhá-lo e lhe dar total e exclusiva atenção, rosto no rosto. Desafio-te a destinar mais de 5 minutos direto.

Tudo precisa estar em ordem: a louça, a lancheira do filho, o armário de remédios, o seu outlook do trabalho, suas unhas… Mas, seus olhos estão precisando de um óculos para ver lá dentro na sua zona de sombra. Afinal, abaixo da sua consciência tem uma escuridão solitária onde vozes te fazem perguntas difíceis, seus medos se camuflam e confissões que não faz nem para si sublimam. Porém, o inferno da vida te fagogita e engole sua capacidade de se conectar com aquela ex-menina carente de mãe, aquela ex-menina que tinha pânicos na escola e com os garotos, aquela ex-menina que tinha tanta vergonha. Sim, a mulher que você é hoje definitivamente guarda uma garotinha lá dentro cheia de conflitos abraçando o próprio joelho contra o qual aperta o queixo.

Para não termos contato com a sombra, estamos com fones altos nos ouvidos, dedos presos ao teclado do celular, olhos retidos em feeds de notícias, e-mails e zaps que podiam ficar para amanhã. Não há espaço para um momento em silêncio com um diário porque você teria pavor de descobrir e lidar com o que sairia da sua escrita analítica. É como se dentro do borrão de coisas que entope sua existência não permitisse fusão com a garotinha tremendo aí dentro.

Vamos arrastando como correntes vidas tão lotadas que só podem ser vazias (paradoxo, não?). Por que você espera tanto suas férias? Porque sua vida é vazia de tão abarrotada de tarefas. Nunca corremos tanto na história para sermos ágeis e multi como robôs. Um segundo de uma janela de um site que não abre chega dói dentro da gente. Mas, não dói quando seu filho ou seu marido não te olham no olho porque você também não olha para eles completamente. Nenhum sente mais a falta do outro. Estão ali dentro de casa, mas, vão perdendo a conexão emocional até serem estranhos, desconhecidos.

Não queremos mais ligar para ninguém. Se muito consideramos, mandamos um áudio (e se sinta muito reconhecido e me mande logo palavras de agradecimentos com coração e palminhas de emoji). Somos carentes de emoticons e sinais azuis de “v” duplo no zap. Mas, tudo bem se poucas pessoas olharem nos nossos olhos para dizer de verdade alguma coisa.

Amanhã, repare que você tentará fazer contato visual atento e várias pessoas estarão focada em outras coisas, enquanto suas bocas mexem fingindo que estão conectadas com seu assunto. E se sorrir para alguém na rua e der passagem, elas logo vão fugir com os olhos, amedrontadas.

Somos mais amigos de máquinas, menos de nós mesmos, menos dos outros. Se você não quer isso para você, vá agora até quem considere, tire cinco minutos e dê total atenção para sua mãe, sua filha, seu marido, sua amiga vizinha e ouça o que ela tem a dizer.

De repente, pode descobrir que não faltava tempo para estar com as pessoas que você gosta. Faltava tempo de qualidade e conexão.

Porque conectar é largar o celular com todo o sofrimento que isso causa, segurar as mãos sobre a mesa do outro e ouvir em silêncio, sem ficar pensando em outra coisa ao mesmo tempo.

Como dizia Chico Buarque: “Olhos nos olhos, quero ver o que você diz / Quero ver como suporta me ver tão feliz”.

 

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