Dia a Dia da Autora

O nascimento de um personagem

Dia a Dia da Autora Li Mendi

Os personagens parecem se tornar pessoas de carne e osso a medida que nós mergulhamos nas estórias. Como eles nascem na minha cabeça?

Meus leitores se envolvem com os personagens e criam uma relação de ódio e amor. Em “No quarto ao lado”, como eles apelidaram o livro da Jeni e do Ruan, chegaram a fazer uma comunidade do orkut para as Fãs do Ruan. É fácil criar um personagem tão querido?

Não! Não é. Eu preciso me encontrar primeiro com meus personagens. Começo procurando em um banco de imagens da Internet ilustrações para o design da página. Entre as centenas, sempre olho para uma e digo: “Esse é o meu personagem”. Alguma coisa me toca para que eu “sinta isso”. É mais abstrato do que se possa imaginar mesmo. Depois, ao longo dos capítulos, ele vai se mostrando para mim “bom”, “mal”, “errado”, “certo”.

Bem e mal, melhor, os dois:

Os personagens bons podem cometer ações más. Não gosto de fechar as personalidades. Todo mundo tem seu tempo de mocinho e de bandido. Acho interessante fazer essa flutuação ao longo da trama, porém, deve ser na hora certa, caso contrário, pode causar rejeição nos leitores. Os roteiristas de novela sabem bem o que é isso, nem sempre aquele personagem que é tido como principal é o que mais cativa, o público pode se identificar com um secundário. Nesse ponto, a interatividade é essencial. O recurso de comentários no site vira um termômetro em que eu descubro a empatia dos meus leitores. Nos livros que só divulgo quando prontos não há essa possibilidade, só posso mesmo receber uma opinião formada. Já naqueles escrito do modo serial, um capítulo por dia, isso fica mais fácil.

Invenção ou apropriação livre da realidade?

Gosto de colocar meus personagens em situações muito cotidianas mesmo, isso ajuda na verossimilhança das cenas. Acho muito legal, quando está tão real que as pessoas confundem e pensam que é uma narração autobiográfica. Certo dia, recebi um recado de uma mulher me dizendo que estava feliz por saber que meu namorado tinha a mesma característica do seu. Eu fiquei muito intrigada porque essa característica citada nada tinha a ver com meu namorado e passei alguns minutos tentando entender de onde aquela idéia tinha saído. Foi quando me toquei que um dos meus personagens era assim! Ou seja, em alguns momentos o leitor acaba pensando que o meu personagem é apenas uma desculpa para eu reproduzir uma realidade que eu vivi. Isso pode até acontecer, mas não é muito comum. Acho que quando uma mentira é muito bem contada parece uma verdade quase dogmática.

Na maioria dos casos meus personagens incorporam pessoas que eu conheço e que passaram por determinadas situações. Geralmente alguém me motiva, sem saber, a começar um livro. Algumas vezes coloco experiências minhas, mas na boa parte é criação mesmo.

É difícil memorizar os detalhes. Por isso, tenho que anotar tudo pra lembrar qual a cor do olho ou do cabelo de um dos personagens de todo o elenco do livro. Mas, se errar, os leitores vão perceber. Há tempo de editar, claro. Tento fazer o melhor.

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