Blog da Li

O perfume que deixo na vida das pessoas

Blog da Autora Li Mendi de Livros de Romance na Amazon

A primavera só chega dia 23 set, mas seu perfume já chegou até mim. Como diz Cecília Meireles, “Aprendi com a primavera; a deixar-me cortar e voltar sempre inteira” e Clarice Lispector completa “E assim como a primavera, eu me deixei cortar para vir mais forte”.

Não deve ser coincidência que a minha noite de autógrafos será no evento Primavera dos Livros. Lembro quando com 15 anos, procurei uma forma de editar meu primeiro livro e ninguém queria dar atenção aquela pirralha. Mas, eu deixei todas as primaveras me cortar, podar e me tornar mais forte. E hoje, sinto que sou uma árvore com raízes fundas, apesar da contrária delicadeza dos meus sentimentos, pendendo como cachos de flores frágeis.

As pessoas que tem fé acreditam que haja 4 dimensões. O céu, onde esperam que todas as dores passem; o inferno, onde as dores não sentidas serão impostas como castigo e a terra, onde as dores são postas como desafios. Pra mim, há uma 5ª dimensão, um mundo paralelo que, quando começo a digitar me transporta. Simplesmente vejo e ouço as cenas acontecendo, como se fosse apenas a relatora de um teatro que assisto, pois meus personagens não são criação, parecem com vida própria respirando dentro de mim.

Eu chamava isso de hobby, mas não poderia chamar escrever de passa-tempo, mas uma forma de me tornar aquela árvore florida. Esse ano, o outono seco foi mais longo de todos. A pós-graduação me exigiu meus fins de semana e noites sobre livros [que ainda estão aqui ao meu lado aguardando o artigo científico], o meu projeto de trainee no trabalho me cortou qualquer tempo vago e me vi com os 20 cursos intensos para mostrar o melhor desempenho. Meu lado racional nunca esteve tão hipertrofiado.

Mas, os meus leitores sempre escreviam pedindo que eu voltasse a criar. Eu quase tinha vontade de pedir para que não me lembrassem o quanto eu estava sendo uma folha seca. Eles sabiam, porém, que a primavera chegaria outra vez. Agora, faltam 3 semanas para o fim do MBA, dois meses para o fim do Trainee e novamente estou conseguindo a média de 1 capítulo por dia. Essa média não é um índice de produtividade, mas de existência, pois eu “sou” melhor quando estou envolvida com as artes.

Um dia, saindo da faculdade sozinha, passei na frente do CCBB, pra quem não conhece, o Centro Cultural do Banco do Brasil, que abriga grandes exposições de arte no Rio. Olhei para o imponente prédio iluminado e senti lá no fundo uma grande saudade de mim. O táxi parou no sinal e fiquei olhando através do vidro, me recordando do quanto vinha ali todos os fins de semana, lia livros de artes, tinha aulas de cinema, fotografia e design na faculdade de Comunicação. Foram 8 anos respirando cultura e depois que entrei no mundo corporativo nunca mais voltei lá. Simplesmente uma avalanche de planilhas, roteiros, comerciais etc. Adoro o que faço e até posso agradecer por poder usar a criatividade na publicidade. Mas, não tem comparação as flores artificiais daquelas verdadeiras e vivas. Afundei-me no banco do táxi, respirei fundo e prometi que em breve eu voltaria a andar de mãos dadas com as exposições, os livros, os filmes, as músicas, as artes outra vez.

Essa semana, eu estava em um curso de três dias inteiros sobre engenharia de telecomunicações (vejam as folhas…), e no meio do tequinês das ondas, o consultor parou e resolveu tirar o sono da turma mudando completamente de assunto. [Adorei essa parte, rs]. Desenhou 4 círculos contidos um dentro do outro. De fora pra dentro, foi preenchendo com palavras: profissão, família, dinheiro, eu. Explicou que essas foram suas prioridades enquanto presidente de uma empresa de satélites. Mas, seus filhos nasceram e ele largou tudo pra morar no interior, cuidar dos filhos e dar aulas. Então, seu círculo se inverteu pra: família, profissão, eu, dinheiro. Olhou pra gente e disse: não existe a melhor ordem, mas qual é a sua? O que te faz feliz? Você precisa ter consciência sobre a ordem de prioridade que escolhe.

Voltou à fibra ótica, mas ali já havia me perdido. Dei um meio sorriso, puxei o caderno e escrevi as minhas prioridades até hoje e como iria mudá-la. Escrever foi para o círculo maior.

Que as minhas histórias deixem o perfume da fantasia e da sensibilidade em quem as leem, não os quero transformar em mais cultos ou inteligentes com ela, quero fazê-los mais crianças, mais emotivos. Pois isso torna todo o resto da vida mais fácil.

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