Eu não quero trabalhar como homem pra melhorar as estatísticas de desigualdade. Nada de falar duro, não sentir o sangue nas veias e aguentar o verbo rasgado sem tremer. Isso não me torna mais mulher, isso me torna alguma coisa que não nasceu comigo. Eu quero ser delicada e sutil, sensível e perspicaz do meu jeito de ser diferente. Porque se for pra ser essa outra meio lobisomem, posso de repente me perder.
Eu não quero ter que provar que posso pegar o mesmo peso, vestir a mesma linha reta, o mesmo chapéu. Eu quero ter um jeito próprio de ser curva, ser resistente, multi. Eu quero ser só mulher e, não, uma mulher macho pra caralho.
Tenho tantas maneiras de ser mais feliz sendo só mulher que tentando ser super mulher: com super pernas, com super peitos, com super braços fortes, com super carro caminhonete, com super voz de comando de macho.
O mundo moderno não quer só uma mulher, quer uma mulher bivalente.
Posso dizer que cheguei aos trinta querendo ser aquela que vai se superar. Quero nos próximos trinta viver bem, bem como sou, amada como sou, respeitada só pelo que sou. O que eu não conseguir ser, não me exija, recrute outra.
Ser feliz requer muito de ser próprio.