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CARTA AO SOLDADO

Blog da Autora Li Mendi de Livros de Romance na Amazon

“Ao meu filho!

Faço justiça ao teu caráter e ao teu coração de pensar que não são
necessários, nesta hora grave e solene, os conselhos de tua mãe. Até há
dias, tu eras um brasileiro, apenas. Hoje, és um “soldado brasileiro”.
Perante Deus, que lê na minha alma e conhece minhas ações, posso erguer
a minha humilde cabeça, convicta de que cumpri o meu dever de
brasileira, criando-te, educando-te em condições de fazer de ti um
patriota. O amor que deves à tua Pátria, meu filho, deve ser, tem de
ser semelhante na capacidade de sacrifício e de abnegação ao amor que
tenho por ti. O amor patriótico só é comparável ao amor maternal !

Cada fraca mulher está pronta a dar a vida pelo seu filho, como
cada homem deve estar sempre preparado para dar a vida pela sua Pátria.
A nenhum outro amor ele pode comparar-se, porque todos os amores estão
na dependência da inconstância, do capricho, do prazer, do ciúme e do
interesse, e o amor da Pátria não conhece restrições, não admite fadiga
e se sobrepõe a todas as considerações do egoísmo e dos baixos instintos
humanos.

Ama a tua Pátria sobre todas as coisas, pois que nada serias mais
do que um pária se a Pátria não fizesse de ti um cidadão, se ela não te
houvesse concedido, na comunidade humana, o nobre direito de ser alguém
sobre a terra e se não te tivesse dado a família imensa e poderosa dos
teus concidadãos. Ser meu filho é ter apenas uma pequena família,
limitada pelos laços de sangue. Ser brasileiro é ter uma família de 40
milhões de irmãos, solidários no mesmo dever imprescritível,
beneficiários das mesmas glórias, associados no mesmo destino.

A tua mocidade e teu nascimento fizeram de ti um soldado
brasileiro. Eu, que sou tua mãe, que te criei e te defendi, coloco-me
hoje sob a tua proteção, abrigo-me sob a tua defesa.

A honra da nossa Pátria é também a honra de tua mãe, e não hesito
crer que tu saberás, em qualquer campo, defendê-la de qualquer ameaça e
vingá-la de qualquer ofensa.

Olho hoje para ti com outros olhos. Esqueço que te vi, pequenino e
frágil, no meu regaço, que te embalei nos meus braços e que te protegi
com o meu amor. Vejo em ti apenas um homem, uma força ativa e
consciente, uma energia resoluta: um “soldado”. O quartel é hoje o teu
lar; a tua mãe é hoje a tua Pátria.

Para ser um digno soldado não basta, porém, que a tua coragem e a
tua dedicação estejam incondicionalmente ao serviço do nosso querido
Brasil, que foi o nosso berço e que, espero em Deus, abrigará os nossos
restos mortais para serem dissolvidos e integrados na beleza da terra
brasileira. Não, meu filho! Não basta a coragem, não basta o amor. É
preciso, também, que, sendo um soldado, tu tenhas o culto apaixonado da
honra, a consciência imaculada e que professes a religião varonil do
cavalheirismo.

É necessário que te estimes a ti próprio, que a tua alma limpa
tenha a beleza da alma dos paladinos. Quanto mais honrada for a mão que
empunha a espada, tanto mais forte e invencível ela será. Sê leal e
generoso, embora enérgico e inflexível.

Não abuses da tua força contra os fracos, não desampares nunca a
inocência. Assim, serás o digno soldado de uma Pátria magnânima, que
nunca fez a guerra senão para desafrontar a sua dignidade.

Uma Pátria honrada precisa que a honra dos seus soldados seja
inatacável, e antes eu quisera ver-te morto do que manchado com uma
ação indigna, de que eu tivesse de corar à tua farda de soldado. Ela
deve revestir a tua honra imaculada, como o vestido de noiva de tua mãe
revestia a honra da sua mocidade.

O que eu te digo estarão a dizê-lo comigo, embora por outras
palavras mais simples e mais belas, todas as mães brasileiras aos seus
filhos, nesta hora em que o Brasil nos reclama a dádiva, mais que
todas, sagrada, que nenhuma de nós pode recusar à sua Pátria e que de
tão augusta majestade reveste a nossa maternidade.

A mão com que te abençôo não treme ao indicar-te o caminho do dever
e da honra. O meu orgulho de patriota serve de bálsamo à minha dor de
mãe.

O quartel é hoje o teu lar. O Exército é hoje tua família. Queira
Deus que possas regressar brevemente aos meus braços, mas, seja qual
for o prazo que o destino marque para a minha saudade, eu a sofrerei
sem lastimar-me, confiante em que não voltarás para perto de mim sem
haveres desafrontado a tua Pátria !

Durante vinte anos, tu te curvaste reverente diante de mim,
beijando a mão que te acariciou e guiou. Hoje, sou eu que me inclino,
respeitosa, diante de ti, porque tu és um “soldado brasileiro”, porque
tu representas uma partícula da Pátria, da sua coragem, da sua honra e
da sua força”.

[O texto foi transcrito na íntegra de um jornal, provavelmente da década de 40.

(3) Comentários

  1. Jéssi diz:
  2. Jéssi diz:
  3. Nathália diz:

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